Na noite desta quarta-feira (11), a equipe de pesquisadores do I Inquérito sobre a Situação Alimentar no Município de São Paulo apresentou os dados mais relevantes do estudo, na cerimônia de lançamento do trabalho na Câmara Municipal de São Paulo.
Trata-se de uma pesquisa inédita, que analisa informações divulgadas este ano como a de que 50,5% dos moradores enfrentam algum grau de insegurança alimentar na capital paulista. A pesquisa permite identificar os bairros onde a fome é mais incidente, bem como compreender os níveis de dificuldade de o e os tipos de alimentos dos quais as pessoas abrem mão quando são obrigadas a fazer escolhas.
“A análise da frequência do consumo de dez tipos de alimentos explicita que a alimentação dos domicílios em insegurança alimentar grave (fome) além de insuficiente é pouco variada ou monótona”, destaca o estudo.
Nesses lares, o consumo de frutas, verduras e legumes a a ser de dois dias ou menos por semana. O arroz e o feijão, no entanto, se mantêm como os alimentos mais presentes, mesmo nas casas onde há fome.
“A população mais empobrecida é submetida a uma dieta monótona”, ressalta José Raimundo Sousa Ribeiro Junior, geógrafo e coordenador da pesquisa, que destaca a relação entre baixa renda e dificuldade de o a alimentos evidenciada pela pesquisa. “O salário mínimo é um salário de fome”, diz.
Carla Bueno, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ressaltou a necessidade de usar os dados como base para pensar uma reforma estrutural, que vá além das medidas assistencialistas de combate à fome. “O debate do combate à fome não é novo. Então, a gente precisa dar um salto, senão a gente vai ficar só remoendo números”, afirma.
Na avaliação de Bueno, o inquérito é mais um elemento que indica a relevância do tema da soberania alimentar. “A soberania alimentar é a capacidade de um povo se alimentar de tudo aquilo que ele precisa, mas é dele também decidir como ele produz tudo aquilo que ele precisa”, ressalta.
Os dados apontam que aproximadamente 1,4 milhão de pessoas (12,5%) reside em domicílios em que se experiencia a fome. Outro 1,5 milhão de pessoas (13,5%) vive em residências com quantidade reduzida de o a alimentos (insegurança alimentar moderada), e cerca de 2,8 milhões de pessoas (24,5%) habitam domicílios nos quais foi constatada a preocupação ou incerteza quanto ao o aos alimentos no futuro próximo, condição classificada como insegurança alimentar leve.
“A questão da fome vai muito além do que ter ou não ter alimento, está ligado à saúde emocional das pessoas”, afirma Marcia Franco, do Conselho Municipal de Segurança Alimentar. “O que nós podemos fazer para que a nossa população volte a sonhar?”, questiona.
Para Bueno, um caminho é o reconhecimento da importância da agricultura familiar. "Quem produz comida nesse país é a agricultura familiar de base camponesa. (…) A terra é o único meio de produção de alimento de verdade e essa terra precisa democratizar o o à alimentação saudável", diz.