Lideranças da Favela do Moinho, no centro de São Paulo (SP), acusam agentes do 7° Batalhão de Ações Especiais (Baep) de invadir uma casa sem mandado judicial na tarde desta quarta-feira (4). Os relatos informam que os agentes bateram na casa de quatro lideranças da comunidade. De acordo com moradores, quatro policiais entraram na única casa que tinha gente no momento. Os PMs estiveram na comunidade pouco antes da chegada da Defensoria Pública para uma atividade de coleta de denúncias de violência policial.
“Foi uma ação de intimidação e perseguição”, avalia Neusa*, integrante da associação de moradores.
O morador que estava em casa relata que foi abordado e obrigado a abrir a porta. “Falaram para eu segurar o cachorro senão dariam um tiro nele”, conta. Depois de responder se tem agem na polícia, se conhece determinadas pessoas e se já assinou o acordo de saída da favela imposto pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), contou que teve a casa revistada.
O morador disse ainda que foi coagido a entregar o celular aos policiais e ar a senha para o desbloqueio. Segundo ele, os agentes ficaram uma hora com o aparelho dentro da viatura antes de devolvê-lo.
PM questiona sobre boné do MST
Ao verem um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um móvel dentro da casa, um policial militar quis saber se o morador fazia parte. “Falei que não me envolvo. Ele disse ‘esse pessoal do MST é lixo, querem que vocês fiquem aqui para ganhar dinheiro nas costas de vocês'”, relata.
A reportagem conversou com uma das lideranças do local que relatou que, dos quatro PMs que fizeram a incursão nesta quarta, dois seriam os mesmos que, há cerca de dois meses, enquadraram uma liderança da comunidade no campinho de futebol e a levaram para uma abordagem dentro da sua casa.
Um pouco antes das 15h, horário marcado para a oitiva da Defensoria Pública, as três viaturas do Baep se retiraram.
O Brasil de Fato pediu posição da Secretaria de Segurança Pública do governo estadual, chefiada pelo ex-policial da Rota, Guilherme Derrite. Não houve resposta até o fechamento da matéria, mas o texto será atualizado caso haja retorno.
A presença da PM na comunidade e arredores arrefeceu depois que, em 15 de maio, o Moinho arrancou um novo acordo com os governos federal e estadual para sair da favela com subsídio de R$ 250 mil para novas moradias. Mas não cessou.
Além das frequentes incursões dentro da favela, a PM segue permanentemente com duas bases comunitárias móveis a poucos metros da entrada da comunidade.
No próximo 10 de junho, a associação de moradores se reúne com representantes do governo federal e da Caixa Econômica Federal para tratar dos detalhes do acordo que pretende remover a Favela do Moinho. Depois de muitos protestos e da repercussão das cenas de brutalidade policial contra a comunidade em maio, o governo federal – proprietário do terreno que será cedido gratuitamente à gestão Tarcísio – mudou de posição e se propôs a subsidiar parte das novas moradias e do auxílio aluguel de R$ 1,2 mil para as famílias que terão que esperar a unidade habitacional ficar pronta.