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O Ponto é editado por Lauro Allan Almeida e Miguel Enrique Stédile, do Front - Instituto de Estudos Contemporâneos, e é publicado todas as sextas-feiras.

 Quem vai taxar Odete Roitman?

Sentindo o cheiro de sangue, os predadores de sempre partiram para cima do Planalto, imaginando que o momento de fraqueza abria espaço para um pacote ainda pior

Olá, enquanto Bolsonaro se despede da liberdade, a verdadeira oposição vai à guerra por seus privilégios.


.Escolinha do professor Xandão. Mesmo que quisesse, seria impossível Lula concorrer com a repercussão do julgamento dos golpistas. Afinal, o espírito de quinta série continua vivo na extrema direita e os depoimentos de Bolsonaro, dos militares e, inclusive, as falas dos advogados, deram mais likes que as fotos de Lula com Macron ou as discussões do IOF. O que também ajuda a reduzir a repercussão da baixa popularidade do governo. A atitude dos réus em seus depoimentos no STF foi uma mistura de falsos arrependimentos, confissões despreocupadas, mentiras calculadas e desprezo pelas instituições civis, incluindo o Judiciário. O que não é de irar, tendo em vista se tratar de uma casta que nunca prestou contas a ninguém. Por isso mesmo é um julgamento histórico e inédito. Ao mesmo tempo, todos os depoimentos confirmaram que a ruptura institucional era tratada com naturalidade dentro do governo. O resultado do julgamento deve sair ainda este ano e não promete grandes surpresas. Tendo produzido inúmeras provas contra si mesmo, Bolsonaro deve ser condenado e conta com a possibilidade de uma prisão domiciliar por motivos de saúde. Além da redução de danos, seu depoimento buscou os holofotes e a repercussão política. Consciente de que a anistia não tem futuro no Congresso, ele deve transformar a própria liberdade em pauta política da direita e em moeda de troca para conceder seu apoio aos potenciais candidatos em 2026. E a estratégia pode dar certo porque nenhum candidato que queira concorrer contra Lula pode dispensar o apoio do capitão caso sonhe em chegar ao segundo turno. É o velho dilema, “ruim com ele, pior sem ele”. Da parte do STF, apesar do protagonismo excessivo de Alexandre de Moraes, o julgamento dos golpistas reequilibra a balança do Judiciário, compensando a participação do Supremo no impeachment contra Dilma e na Operação Lava Jato. Aliás, a nova posição da Corte deve se consolidar com o tema da responsabilização das big techs em casos de atividades criminosas nas redes, que a pela interpretação do Marco Civil da Internet, mas que ainda não encontrou consenso entre os ministros.


.O dragão da maldade. A Faria Lima já se preparava para estourar o champanhe depois que o encontro entre Fernando Haddad e os líderes do Congresso sinalizava que o governo iria recuar na proposta de aumento do IOF.  Sentindo o cheiro de sangue, os predadores de sempre partiram para cima do Planalto, imaginando que o momento de fraqueza abria espaço para um pacote ainda pior. Banqueiros e empresários hastearam a bandeira de ordem para manter as contas públicas em dia. A ideia era que o governo cortasse na própria carne e realizasse o desejo do mercado: acabar com as despesas obrigatórias em saúde e educação e com a vinculação da aposentadoria ao salário mínimo. Se pudesse acabar com o salário mínimo, melhor. Voltar à 1888, então, seria um sonho. Porém, quando a nova MP veio a público, o governo, de fato, recuou em pontos na alíquota do IOF, mas foi novamente para cima dos privilegiados. A nova MP aumenta a taxação sobre as Bets, sobre o agronegócio, sobre as fintechs e aumentou o Imposto de Renda sobre a distribuição de juros sobre capital próprio. A reação do Partido da Faria Lima no Congresso foi imediata. A ala da “molecagem”, como definiu o próprio Haddad, fustigou o ministro em audiência, num sinal de que o Planalto e a base governista, mesmo depois do episódio de Marina Silva, continuam deixando que seus ministros se defendam sozinhos. Enquanto isso, do lado de fora, PP e União Brasil, teoricamente da base governista, anunciavam que iriam votar contra a MP de Haddad. A insatisfação do centrão com a nova exigência de transparência e regulação nas emendas também serve como combustível para o Congresso descarregar sua crise de abstinência pelas emendas. Mas não é só no Congresso que a Faria Lima atua contra o governo. No Banco Central, o aprendiz de Campos Neto sinaliza que, mesmo com a inflação e o câmbio baixando, a taxa Selic pode subir ainda mais na próxima reunião do Copom, mantendo a espiral de crescimento da dívida pública, aquela que garante os ganhos de banqueiros e empresários e que exige, como contrapartida, cortes de gastos e de direitos.


.Ponto Final: nossas recomendações.

.Como Israel exportou sua tecnologia colonial e racista ao mundo. A Jacobin denuncia o apoio de Israel ao apartheid sul-africano após a Guerra dos Seis Dias.

.Fissuras na máquina de deportação de Trump? No Outras Palavras, Dara Lind e Omar Jadwat analisam a perseguição aos imigrantes nos Estados Unidos.

.O açougueiro do Haiti. Antes do julgamento do Golpe no Brasil, o general Augusto Heleno deveria ser julgado por seus crimes no Haiti. Na Jacobin.

.‘Pragmatismo da esquerda é antipragmatismo que tem levado a derrotas’, diz professor, em defesa de foco nas pautas populares. O professor Daniel Cara analisa os limites e possibilidades do governo Lula. No BdF Entrevista.


.A desnacionalização do ensino superior privado. N’A Terra é Redonda, Fernando Nogueira da Costa analisa a evolução e o perfil dos grandes grupos educacionais que atuam no Brasil.

.Torcedor tem mais chance de ver bets do que a bola rolando no Campeonato Brasileiro. Análise de dados de transmissão de jogos ao vivo mostra que propagandas aparecem mais do que a bola. Na Folha. 


.Copa do Mundo de Clubes da FIFA e as redes multi-clubes. O mundial de clubes revela as redes sobre controle do capital financeiro no esporte.

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